Porque me lembrei do meu e tinha este texto guardado na caixinha dos poetas que, todos os dias, me inspiram..
"Antes do instante assinalado em que existe, o primeiro beijo é sempre um mistério.Pode olhar-se para lábios desconhecidos durante muito tempo, pode imaginar-se , mas haverá sempre tudo aquilo que não se conseguiu prever nem avaliar: afinal os lábios eram mais finos do que se pensava; afinal, apesar de Agosto, os lábios eram frios; afinal, não havia maneira de compreende-los.Ao terminar, o primeiro beijo parecerá sempre que foi demasiado breve: começou e acabou. Dentro do seu tempo, no entanto, será enorme porque no mundo inteiro não existiu mais nada.Tudo se suspendeu num instante que se subdividiu numa infinidade de instantes, nas quais se avançou às escuras pelo caos de descobertas sucessivas.Mais tarde, depois do fim, esse instante de vida irrepetivel será repetido vezes e vezes na memória, será impossivelmente revivido.Aquilo que andamos aqui a fazer, até morrermos, pode ser pontuado por todos os primeiros beijos que conseguimos e pudemos e quisemos dar, receber.
Para ele era assim.Era nisto que acreditava e que lhe acontecia sempre, em cada beijo.Havia mais de 15 anos que beijava a sua mulher e, em todas, era diferente.Cada beijo era o sempre um primeiro beijo. E, em cada um, havia o momento em que existia e havia o depois, a sua memória...
Para ela, que também o beijava havia mais de 15 anos, não era assim.Desde a primeira vez, que não encontrava qualquer sabor nos lábios dele, sentia-os como uma amálgama informe de pele áspera e seca. Gostava da sua simpatia, do hábito, da organização. Detestava os seus beijos.No emprego, felizmente, havia um homem, mais velho, que já tinha reparado nela e em que ela já tinha reparado.
O seu problema seria resolvido em breve..."
Beijos - José Luís Peixoto
in Domingo